Estive pensando, cá com meus botões, quanta diferença das festas natalinas da minha infância com as atuais.
No início da segunda metade do século XX, minha infância em Carazinho, cidade na época de no máximo 20.000 habitantes (estou chutando porque não encontro dados oficiais), penso que eram menos porque todas as pessoas se conheciam, de um modo ou de outro.
Ah, Papai Noel, o Bom Velhinho, quanta diferença entre a segunda metade do século XX (quando nasci) e o século XXI. Papai Noel era um só e aparecia apenas na véspera do Natal, ou seja, no dia vinte e quatro de dezembro. Era recepcionado ao entardecer pela população concentrada em frente a mais famosa e "única" Bombonière e Confeitaria da cidade. Desfilava em um automóvel conversível, acompanhado por uma acordeonista que também cantava, tudo isso sem as insuportáveis "caixas de som".
Aos cinco anos, questionei mamãe porque o pai viajara justo naquele dia e não estaria conosco em casa quando o Papai Noel chegasse para a distribuição dos presentes. A ausência dele deixou-me chateada. A resposta da mãe foi que ele viajara a trabalho e que no outro dia retornaria.
Durante as brincadeiras da tarde do dia 24 de dezembro de 1957 comentei com minhas amiguinhas que sentiria falta do pai na comemoração do natal. (Situando os leitores, estou de vestido branco.)
Eis que, dois amiguinhos, coleguinhas de jardim da infância, esses dois moleques sentadinhos com carinhas de anjinhos, no início da primeira fila (na foto abaixo) no dia do encerramento festivo do ano letivo, com distribuição de doces e brinquedos às crianças, ouviram nossa conversa e vieram os dois chamar-me de boba, burra etc., como é que eu não sabia que aquele homem vestido de Papai Noel era meu pai? Caí em prantos e corri para cobrar da mãe o que os meninos estavam dizendo e ela, muito perspicaz, ligou o rádio onde casualmente estava sendo veiculada uma entrevista com o Papai Noel e, como ele era um Noel muito cuidadoso modificava além da aparência também a voz, colocando duas rolhas entre os dentes e as bochechas (isso soube anos depois), não reconheci a voz como sendo do pai.

Chorei à tarde imaginando que meu pai era mentiroso e fantasiava-se de Papai Noel mas, o Carlinhos e o Ricardo choraram muito mais à noite, quando vieram até a nossa casa, a pedido do Papai Noel e esse os chamou na frente de todos e passou-lhes um belo sermão e os dispensou sem receberem os costumeiros presentes. Lógico que mais tarde, já em suas casas o Papai Noel entregou os presentes sem sermões, apenas alegria.
Na foto acima temos o automóvel Cadillac, conduzido por seu proprietário que em poucos anos tornou-se prefeito da cidade por dois mandatos, Selda, fora do carro, proprietária da Bombonière e Confeitaria Selda (tenho outras histórias para contar sobre esse local, já nos anos 60) e Carmem, hoje desembargadora aposentada do TRT RS e na época professora de acordeon e canto.
Pois é, nos natais da minha infância Papai Noel era único, não aparecia nas lojas desde o início de novembro e a decoração natalina restringia-se ao interior das residências, prédios públicos e igrejas.
A magia ainda existia, hoje a maioria das crianças está confusa quanto ao personagem Papai Noel, vulgarizou-se o Bom Velhinho...
Essa é a primeira parte da história de natais e tratou de Papai Noel a próxima será sobre as árvores de natal, seus enfeites e presépio.