"Onde reinam intenções honestas,
mal entendidos podem ser curados
com rapidez e eficácia."

20 de abril de 2012

Tricotando, enrolando, dormindo

Panos e Pets

Faz um mês que o outono chegou, 
as agulhas e lãs já estão fazendo parte das noites e,
enquanto tricoto,
Pícolo e Nino dormem e se enrolam
 se enrolam e dormem
Bina dorme enrolada na mesa de centro,
 Nausy no sofá e
Nino trocou o colo pela mesinha lateral.
Depois de tanto enrola e dorme, dormirei também, desejando
boa noite e que o resto de outono continue como o início, temperatura amena e pouca chuva.

19 de abril de 2012

Os Gatos - Lygia Fagundes Telles

Muito bom saber que essa bela pessoa a quem admiro comunga comigo o amor por gatos. 
Hoje, 19 de abril é aniversário de Lygia Fagundes Telles, ofereço aos leitores do blog um pequeno texto da escritora sobre sua primeira gata, Iracema.
Os Gatos
“Ele fixaria em Deus aquele olhar de esmeralda diluída, uma leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gato não obedece. Às vezes,quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem a instintiva humildade do cachorro, o gato não é humilde, traz viva a memória da liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo de Deus. Nem servo do Diabo.

Mas espera, já estou me precipitando, eu pensava naquela fábula da infância: é que Deus Nosso Senhor pediu água ao cachorro que lavou lindamente o copo e com sorrisos e mesuras foi levá-lo ao Senhor. Pedido igual foi feito ao gato e o que fez o gato? O fingido escolheu um copo todo rachado, fez pipi dentro e dando gargalhadas entregou o copo nojento na mão divina.

Acreditei na fábula, na infância a gente só acredita. Mais tarde, conhecendo melhor o gato, descobri que ele jamais teria esse comportamento, questão de feitio. De caráter. Ele ouviria a ordem e continuaria deitado na almofada, olhando. Quando se cansasse de olhar, recolheria as patas como o chinês antigo recolhia as mãos nas mangas do quimono. E mergulharia no sono sem sonhos, gato sonha menos do que cachorro que até dormindo se parece com o homem. Outro ponto discutível: dando gargalhadas? Mas gato não dá gargalhada, só cachorro. Meus cachorros riam demais abanando o rabo, que é o jeito natural que eles têm de manifestar alegria, chegavam mesmo a rolar de rir, a boca arreganhada até o último dente. O gato apenas sorri no ligeiro movimento de baixar as orelhas e apertar um pouco os olhos, como se os ferisse a luz. Esse é o sorriso do gato – ô bicho sutil! indecifrável. Inatingível.
Nem pior nem melhor do que o cachorro, mas diferente. Fingido? Não, ele nem se dá ao trabalho de fingir. Preguiçoso, isso sim. Caviloso. Essa palavra saiu da moda mas deveria ser reconduzida, não existe melhor definição para a alma do felino. E de certas pessoas que falam pouco e olham. Olham. Cavilosidade sugere esconderijo, cave – aquele recôncavo onde o vinho envelhece.
Na cave o gato se esconde, ele sabe do perigo. Mas o cachorro se expõe, inocente.
Foi na minha juventude que conheci o gato bem de perto. Me preparava para os vestibulares da Academia do Largo de São Francisco, era noite. E eu lia Iracema sem vontade, lia em voz alta, aos brados, para espantar o sono. Então ouvi um ruído brusco de coisa algodoada entrando pela janela e parando atrás da minha cadeira. Senti o olhar da coisa se fixando em mim. Fui me voltando devagar, afetando aquela calma que estava longe de sentir: um gato malhado, espetado nas quatro patas, me encarava, perplexo. Eu também perplexa. Fomos nos recuperando do susto, eu menos tensa do que ele. Meu apartamento era no primeiro andar de um prédio cercado de casario e essa janela da sala dava para o telhado de uma casa velhíssima, por onde transitavam os gatos do bairro.
Por onde andam hoje os gatos que não encontro mais nenhum. Naquele tempo havia gato à beça nos muros, nos telhados. “É que a vida apertou e gato dá um bom cozido”, explicou o jornaleiro. A fome aumentou e o telhado diminuiu, onde agora os telhados nos quais eles ficavam tomando sol? Caçando passarinho. Amando. Os ratos todos em plena circulação, fortalecidos. E os gatos, onde estão os gatos? Pois aquele era um gato de telhado, as manchas amarelas e pretas num fundo branco. E os olhos. Por alguma razão obscura, escolheu minha casa: estendi a mão afeita a acariciar cabeça de cachorro. Mas cabeça de gato não é cabeça de cachorro – primeira lição que ele deu ao recuar com uma soberba que me confundiu. A conquista do gato é difícil, embrulhada, não tem isso de amor repentino: mais um movimento de aproximação e ele fugiria ventando.
Fui buscar o pires de leite, deixei-o ao alcance do visitante da noite e continuei a ler o romance da virgem dos lábios de mel, mas em voz baixa, intuí que ele preferia o silêncio. Ele ou ela? Sexo de gato não é nítido como sexo de cachorro, outra diferença importante. Leva algum tempo para a descoberta do sexo, da unha e da idade.
Gato ou gata, vai se chamar Iracema, resolvi. E deixei meu hóspede, a casa é sua.
Então ouvi o ruído delicado, ele bebia leite, mas não como os cachorros bebem, sofregamente, espirrando em redor. O gato é discreto. Há que amá-lo discretamente, pensei e fiquei sorrindo. Tenho um gato.
“Tudo passa sobre a terra!” – estava escrito no final do romance que achei triste. Olhei para a outra Iracema que dormia no meio do tapete. Também você vai passar? Tu quoque, Iracema?! Não sabia ainda que permaneceria infinita na minha finitude.”
(Lygia Fagundes Telles – texto extraído do livro A Disciplina do Amor)


17 de abril de 2012

Mimi, sou esperto!

Continuo cuidando dos filhotes da Leona embora eles já estejam com três meses. Enquanto eram pequenos era mais fácil, podem rever aqui, agora estão maiores que eu.
Sendo um gato muito esperto, achei um bom esconderijo: uma casinha para cachorros que está desocupada porque aqui cachorros ou dormem com nossa humana na cama ou têm um quarto especial só para eles como é o caso da Leona, Tita e os filhotes.
Aqui na casinha posso ficar tranquilo,
 só observando as brincadeiras dos peraltas.
Posso até cochilar um pouquinho e sonhar com minha querida namorada Nina. Sabem que quando durmo ela acorda e quando acordo ela dorme? Complicado né? Mas explico, ela mora no Japão e eu no Brasil e o tal "fuso horário" faz com que isso aconteça.
 Quem desejar conhecer a Nina, ela tem um blog próprio, é esse aqui.
Quando terminei a tarefa de observar os filhotões, 
nossa humana repartiu comigo um iogurt!
Assim vale a pena trabalhar um pouco, 
sempre recebo um agradinho.