"Onde reinam intenções honestas,
mal entendidos podem ser curados
com rapidez e eficácia."

14 de janeiro de 2012

A favor da casa, dos bichos e da Justiça

(texto de Cintia Moscovich, fotos Beth Zir)   
      Já faz alguns anos, decidi trabalhar em casa e que iria viver de literatura. Aqui, à sombra de uma mangueira centenária, planejei escrever, ler, traduzir e dar minhas aulas particulares de criação literária. Aqui, iniciei uma ainda pequena coleção de obras de artistas gaúchos e também decidi estudar jardinagem para recompor o antigo pomar.
Pensei que, na medida em que se tornasse possível, iria reformando esse imóvel de família, adaptando a casa da década de 30 às nossas necessidades e, claro, aproveitando a companhia generosa de gatos e cachorros.
Como bandidos entraram em casa mais de cinco vezes ao longo de 27 anos, fomos erguendo um sistema de segurança poderoso. Também fui montando um arsenal de ferramentas que parafusam, desentortam, perfuram e desengripam: faço os reparos em casa por minha conta e risco. É verdade que às vezes me acontecem uns canos de água furados e curto-circuitos de filmes pastelão. Não importa muito. Importa é que todos os esforços são para a casa reunir minha família e meus amigos, pensando ser local de descanso, recolhimento, reflexão - e algum divertimento, que também merecemos.
     Agora, leio numa edição de Zero Hora que a Polícia Civil está numa verdadeira cruzada contra os pichadores, com punições mais severas, enquadrando os infratores no crime de formação de quadrilha. Como já tive a fachada de casa pichada e como me coloquei, munida de pincel e tinta, a a pagar a sujeirada, achei que a iniciativa veio em boa hora. A lógica é solar: não adianta ficar passando descompostura e dando pena alternativa a quem desrespeita o patrimônio alheio e, pior, o cenário público e privado da vida em sociedade. Quem ama sua casa e já foi agredido, como eu fui e continuo sendo por conta de grossa desconsideração, sabe do que estou falando.
     Mas tem mais. Também em ZH, leio uma carta de uma leitora sugerindo que, nesta época de férias, as pessoas sejam "conscientizadas" de que "não devem" abandonar seus animaizinhos de estimação na praia e muito menos jogá-los pela janela em plena freeway.
     Conscientizar? Ainda precisamos ensinar que a vida, qualquer vida, nunca é menos que sagrada?
     Acho que o desrespeito ao direito alheio, sair por aí passando spray na parede alheia e abandonar animais estão liados a uma espécie de falência nas relações e nos valores básicos entre humanos, aqueles que tento preservar na minha casa de riponga tardia. Acho que pichações e crueldade contra animais - só para citar dois exemplos - devem ser, sim, criminalizadas, uma espécie de Tolerância Zero a valer e de uma vez por todas. Para arrumar os pequenos problemas domésticos, a gente pode contar com uma boa caixa de ferramentas. Para arrumar os grandes problemas da sociedade, a gente deve contar com leis duras e objetivas, que sejam aplicadas e cumpridas.

10 comentários:

  1. As notícias mostram que muitos estão engajados em resolver, proteger etc... Mas muitos estão longe da lucidez que precisamos. No meu mundo dos pequenos humanos, atendemos um garoto de 9 anos que a mãe lhe dava "maconha" para "acalmar". Vamos protegê-lo e retirar desse mundo, mas e quanto outros ficaram? Belas fotos e a da vó Lilly na porta com os gerânios é uma obra! Pequena vovó se despedindo da terra onde deixou uma energia sem igual!

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  2. Muito me honra esse comentário. Estou dando uma modificada no foco do blog. Pois é Aline, vocês estão cumprindo o juramento médico esperemos que com o tempo a Justiça cumpra minimamente ao menos a Constituição Federal.Querida a vó Lilly, foi uma das últimas coisas que "inventei" quando não pode mais sentar na área, levar até a porta com a cadeira de rodas para ver as cadelinhas e os gatos correndo lá fora. Estou sentindo muita falta dela nesses últimos dias, mas é normal.

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  3. Concordo plenamente amiga, enquanto as leis forem flexíveis aqui no Brasil, as coisas não se ajeitam, um absurdo isso. Ah, adorei ver o teu peludo cinza, é muito parecido com meu fofão, noossa, é muito semelhante, hehe, fiquei feliz de ver, ele é danado como o fofão? hehe, ai que lindos esses teus dois, adorei ver, beijinhos, um lindo final de semana, amiga.

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    1. Eva, já havia percebido a semelhança entre nossos queridos gatos cinza e branco. O Belo é o legítimo "gato", faz de conta que é santo mas aprontas as suas. Feio "mamãe" dizer isso, mas é meu preferido.
      Beijinhos e bom domingo.

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  4. É, querida, disseste bem "criar leis e aplicá-las e cumpri-las". Em nosso país muitas leis são letra morta e nossa Constituição, detalhista até demais, é desrespeitada a cada dia.
    Quanto à Vó Lily, sei bem o que estás sentindo: meu pai se foi há quase 42 anos e minha mãe há mais 19 e, muitas vezes sonho com eles e, seguidamente, bate aquela falta, carência. É doído mas, ao mesmo tempo, é bom, pois mostra que foram pessoas especiais, pais e mães de verdade, muito diferentes de tantos que vemos por aí.
    Tenho um selinho muito especial lá no blog para ti. Abraço grande, amiga

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    1. Gisa, sobre nossas leis diria mais, a grande maioria é letra morta, sempre com furos que nós advogadas bem conhecemos. Quanto à CF, não fosse perda de tempo, teceria comentários sobre como burlar "legalmente" a maioria dos artigos, heheh!
      Ah querida, a saudade da mãe está batendo forte, ainda mais depois de ler algumas coisas sobre ela que meus filhos escreveram.
      Agradeço de coração o selinho, mandei e mail para ti com dúvidas como fazer algumas coisas. Colar o selinho no meu blog acho que sei como fazer, mas as outras tarefas...?
      Abração.

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  5. Lindo texto ! Falta a esses jovens (e pessoas não tão jovens) o respeito à propriedade alheia e as animais, aliás a todos os seres vivos ! Parece que cada um pensa apenas em si mesmo e não respeita mais nada ! A casa da minha mãe também já foi pixada algumas vezes, eu tenho um muro grande que ainda não foi agredido e espero que continue assim.
    1beijos
    Laís

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  6. Pois é amiga, tudo que aprendemos em casa parece que atualmente não se ensina mais. O respeito se foi, seja pelo público ou privado. Minha casa, por fazer divisa com o passeio público serve, a área como mictório e outras coisas e a janela com vidros para o passeio tornou-se alvo de babacas que quebram para ouvir os cachorros latirem. No início quebravam e eu trocava mas agora desisti de trocar então a fileira de baixo está sem vidros e a parte interna foi pregada com uma tranca e colocada uma estante em frente.

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  7. ola Beth, eu estava pesquisando sobre etiquetas e acabei "atrope sando" no seu blog, nossa fiquei comovida com sua historia, e feliz de ver q ocorreu tudo bem com vc, e notei q vc é uma pessoa maravilhosa, adorei ter passado por aki... um milhão de bjos, meu blog é: arteirasutil.blogspot.com, não uso ele muito sou mais do orkut, lá conheci muita gente e meu blog só posto meus trabalhos q faço. fica na paz bjoss

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