"Onde reinam intenções honestas,
mal entendidos podem ser curados
com rapidez e eficácia."

3 de dezembro de 2011

Suicídio do Kity

Este carro, sendo colocado no caminhão guincho era o nosso "super" Santana que estava abandonado na garagem porque muito pouco o usava. Estava conosco desde 1998 e muito nos serviu. Até de uma campanha eleitoral ele participou efetivamente. No dia dezesseis de outubro de 2011 partiu para outras paragens, para servir outras pessoas. 
Foi com esse carro que buscamos o Kity na casa da senhora de quem o adotamos. Talvez por isso sentia-se um pouco 
"dono do carro".
Adorava tomar sol no seu interior, passava horas ali, no inverno é lógico e com a porta aberta para sair quando quisesse. 
Quando não estava sobre ou dentro do carro, ficava embaixo, principalmente quando era hora de recolher-se para casa à noite. Várias noites fiquei sentada na escada tentando convencê-lo a entrar em casa para dormir e ele esfregava-se nos pneus, dava uma olhadinha para minha cara de pidona e voltava para baixo. Foi um dos maiores exercícios de paciência que já executei. Demorava, mas entrava.
Depois da partida do carro, Kity ficou mais caseiro, dava suas voltinhas, mas não era a mesma coisa. Deitava-se embaixo dos arbustos, na grama da garagem onde devia ainda sentir o cheiro do seu antigo amigo  "super".
Lembrando, Kity era o gato da vó Lilly, ela o adotou e por muitos anos dormiu na sua cama, até ela adoecer e perder a paciência.
Então, depois de muito pensar, concluí que a venda do "super", minha ausência para a cirurgia e a partida da vó Lilly, foram demais para o Kity e ele resolveu suicidar-se. Imagino que tenha conversado "telepaticamente" com algum vizinho e solicitado que lhe fosse preparado algum petisco, recheado com stricnina e foi prontamente atendido. Gostaria de saber quem foi a pessoa que atendeu seu último pedido para presenteá-la com um lindo BOLETIM DE OCORRÊNCIA, mas as pessoas solícitas normalmente preferem manter o anonimato.
Nossa última foto juntos, no dia 27 de outubro de 2011.
Kity foi muito amado por nós e odiado por outros, mas o amor sempre vence e ele deve estar sentado ao lado da vó Lilly em algum lugar no além.

1 de dezembro de 2011

Mistura de sensações



Nove de novembro de 2011, despedi-me de vocês queridos leitores, informando o motivo e prometendo ao retornar às postagens diárias o "Diário da Recuperação".
Mas, ao prometer o tal "diário", jamais imaginei que poucas horas após a cirurgia, receberia a notícia do falecimento da minha mãe. Então, aqui estou, numa mistura de sensações, por um lado o sucesso da cirurgia e o prognóstico fantástico, de volta à saúde perfeita e, de outro a partida da mãe, confesso já esperada, mas completamente intempestiva. Deixei-a, por força da urgência da busca pela minha saúde, e ela aprontou-me essa, não esperou meu retorno para receber a boa notícia da minha cura.
As cinco fases do luto, vivi-as nos últimos anos. Fiquei chocada quando percebi minha mãe semi inválida, neguei a situação tentando manter ainda a vida normal, fiquei com raiva quando percebi que não teria mais a mãe que batalhou sozinha comigo e meus filhos por quase trinta anos, a depressão tomou conta e levou-me à terapia e tarja preta e agora estou na quinta fase, a da aceitação.
Alguém já deve ter pensado, "mas essas fases não são vividas em poucos dias, às vezes anos são necessários até a aceitação". Concordo com quem assim pensou, mas percebam que vivenciei a perda gradualmente, sofri com cada tentativa dela em  lavar alguns pratos e precisar lavá-los novamente pois a fraqueza não lhe permitia mais a perfeição dos antigos pontos de bordado...
Nos últimos meses, nem a Zero Hora, jornal diário do Estado ela tinha forças para ler. As revistas Veja, que o Tiago, sempre trazia para ela, apenas foleava, lia algumas manchetes e tecia pequenos comentários.
Nos últimos dias, ainda aqui em casa, poucos eram os momentos de lucidez, mas hoje agradeço de joelhos a última pizza e o suco de caju que repartimos à mesa. 
Apenas nove dias consecutivos ficamos sem nos ver e justamente nesses nove dias ela preparou a sós seu espírito para a partida, talvez para poupar-me fechar-lhe os olhos ou encontrá-la sem vida.
A falta que sentirei será imensa, mas aos poucos irei acostumando.
Bina, companheira da vó agora adotou-me!