O tempo por aqui já andava curto, parecendo que as horas têm menos de sessenta minutos, agora com a presença da Rebostiana diminuiu mais ainda.
Ela passa o dia todo andando atrás de mim como sombra e pior, enchendo-me de conselhos e pitacos, "deves fazer assim", "no meu tempo", "como não comes carne?" e por aí vai.
Ontem a noite, na hora de dormir perguntou onde estava o "penico".
-Que penico Rebostiana, perguntei.
-Ora, o penico para as visitas, vais dizer que não tens?
-Não, não tenho, são dois os banheiros, podes escolher um e ficar só pra ti.
-Mas se quiser fazer xixi de noite como faço? Não vejo nada no escuro...
-Acende a luz de cabeceira.
-Mas tu não tens foco? (foco é como denominavam lanterna no passado)
-Não precisa foco Rebostiana, temos luz em toda a casa.
-Mas eu prefiro penico... e se eu quiser fazer cocô, como vou até a latrina?
-...já sei, sua moderninha, mandou desmanchar a latrina do teu avô? Não tens sentimentos mesmo, ele gostava tanto de pegar o jornal e o rádio de pilhas, que ele mesmo fez, e ficar um tempão na latrina.
-Sim, quando ele saiu da mansão aquele lugar fedorento foi desmanchado, aterrado e plantado um lindo pé de magnólias no lugar.
-ah, tá bom, acho que estou incomodando, vou usar o banheiro e a luz de cabeceira.
-A mãe contou-me uma "historinha" tua, de um penico e da escada da mansão, lembras?
-hãn...?
-É, estou sabendo do teu tombo na escada, com o penico cheio, isso que desde aquela época, anos 50 do século passado, na mansão haviam dois banheiros e alguns habitantes insistiam em usar penicos e latrina.
-Tu guardou o penico da Lilly? Sei que ela já no século XXI ainda usava e te deixava "p" da vida, heheheh... Deve estar no quartinho embaixo da escada, ou na despensa, lá fora?
-Sim Rebostiana, guardei na despensa lá fora, para plantar flor dentro dele.
-Então...
-Então nada, aqui dentro ele não entra, e agora vá dormir que estou indo.
-Boa noite.
-Boa noite Lici, deixas eu te chamar assim, ao envés de Beth?
-Sim, pode ser, fico contente em lembrares meu apelido de infância.
Sinto pena da Rebostiana, sozinha, morando naquela cidade esquisita, Fiofó do Planalto, estou esperando ela iniciar os relatos dos acontecimentos por lá. Mas, só na próxima semana pois amanhã vou para Getúlio Vargas para comemorar o aniversário da minha querida tia Luíza.