Nasci numa família de dentistas. Tio avô, avô e primos. Adorava brincar de "dentista" no gabinete (antigo nome dos consultórios) do Opa (diminutivo para avô em alemão), instalado na mesma sala onde hoje escrevo no blog, ou seja, na Mansão.
Não tenho fotos da época, então ilustro
com algumas retiradas da net.
Coloquei a foto abaixo para mostrar a cadeira portátil, dobrável que Opa usava quando ia para o interior do município, fazer trabalho voluntário para os colonos. Algumas vezes a mãe e eu fomos junto, era diversão pura. Sendo trabalho voluntário, óbvio que honorários não eram cobrados, mas, no porta malas do carro, junto da cadeira vinham produtos coloniais, às vezes até galinhas vivas.
O gabinete do Opa era mais ou menos como o da imagem a seguir.
Naquela época os dentistas faziam tudo o que hoje ainda é feito, desde restaurações, tratamentos de canal, chamados de "matar o nervo", e que deixavam os dentes numa tonalidade cinza escuro, extrações e também eram eles quem faziam as próteses móveis, chamadas de "pontes móveis" quando eram poucos dentes e "chapa" quando eram dentaduras completas.
Meu avô era famoso pelas "chapas" que fazia. Ficavam perfeitas, difícil acreditar que os dentes não eram naturais. Trabalhou muito com ouro, as pessoas adoravam ter alguns dentes de ouro para mostrar "status". Com ouro ele fez além de dentes, vários aneis para a família, pendentes (geralmente cruzinhas).
Os instrumentos, ou ferramentas como eram chamadas, também são os mesmos usados antigamente, agora, com muitos acréscimos e tecnologia. A esterilização ocorria na cozinha da casa, onde eram fervidos numa panela com água sobre o fogão à lenha.
Opa era um ser humano com um coração do tamanho do mundo. Sofria junto com os pacientes. Quando alguém chegava com dores e era impossível trabalhar no dente, sendo a pessoa do interior, ele hospedava o paciente em casa, medicava até poder trabalhar. Muitas pessoas aqui ficavam, durante todo o tempo das extrações e confecção da "chapa".
Recordei hoje esses detalhes porque estou em pleno tratamento dentário, para repaginar o sorriso. Não apenas esteticamente, mas por necessidade. Sempre tive pavor de dentista, acho que por assistir às cenas que muitas pessoas faziam, o choro das crianças, os desmaios dos homens. Assim, meus dentes estão necessitando reparos urgentes, inclusive com quatro extrações. Um dente já foi embora hoje e dos outros me livrarei nos próximos dias. Muito bom ter um dentista jovem, atencioso e competente num consultório moderno e aconchegante. Mas a anestesia ainda é feita com aquela seringa mostrada acima igual a que meu avô usava.
Segundo Dr. Rodrigo a agulha é dez vezes mais fina (mas dói).