"Onde reinam intenções honestas,
mal entendidos podem ser curados
com rapidez e eficácia."

2 de fevereiro de 2013

O travesseiro explodiu

Nós ainda estamos confinados dentro do atelier e do quarto verde e hoje ela trouxe a Pudim, aquela amiguinha bonitinha que está com dodói na patinha, para ficar um pouco com nós. 
A Pupi ganhou um travesseiro para deitar sobre o baú, onde não alcançamos. Passou um tempo e ela levou a Pudim pra baixo
 e de repente
 escutamos o travesseiro explodir!
 Tentamos colocar as tripas dele pra dentro,
 mas não conseguimos.
 Prefiro nem olhar, coitadinha da Julica está se esforçando pra enfiar tudo pra dentro e eu Jiló estou
cuidando pra ver se ela chega. Tenho certeza que irá nos culpar pelo "acidente".
Vamos sair de fininho e ir pra nossa caminha, senão o bastão de jornal irá funcionar...

29 de janeiro de 2013

Griselda, trabalho doméstico

Sim, estamos tristes com a tragédia que aconteceu em Santa Maria e com a partida do Belo, mas como diz minha vó Hedwig, é preciso olhar para a frente, então estou aqui para contar as mais recentes crueldades cometidas pela Beth aqui na mansão.
 Todos sabem que a Ana, funcionária da mansão, está em férias e a exploradora de gatos entrou novamente em ação, só que agora o explorado não é o Mimi, sou eu a pobre Griseldinha.
Sou obrigada a ajudar na retirada dos pelos do chão,
 com um pano de lã.
É bom salientar que os pelos são dos cachorros, olhem a cara debochada da Bina, eu limpo e ela rola onde terminei de limpar.
Estou sendo arrastada pelo pano por toda a casa,
é insuportável.
Olhem só, quando terminamos de passar o pano de lã ela me mandou limpar os móveis.
Vejam que mulher relaxada, sobre uma mesa, um caroço de ameixa.
Pior, todo babado, eca...
Mas, consegui tirar e levar para o lixo.
Quando terminei, tentei escrever um bilhete para a dinda Lais, pra me tirar desta senzala, mas ela viu e tirou-me a caneta.
Tomara que as tais "férias" da Ana terminem logo porque se demorar muito, meus lindos pelos ficarão pretos de tanto ser arrastada pelo chão.

27 de janeiro de 2013

Estou muito triste

Fabrício Carpinejar traduziu meu sentimento.
"Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. 
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram."


A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS
Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça. 
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta. 
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa. 
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013. 
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. 
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. 
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. 
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. 
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. 
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. 
Morri sufocado de tanta morte; como acordar de novo? 
O prédio não aterrissou de manhã, como um avião desgovernado na pista. 
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. 
As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. 
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido.