"Onde reinam intenções honestas,
mal entendidos podem ser curados
com rapidez e eficácia."

10 de abril de 2012

Síndrome do Pânico

Sofrimento inevitável - anos 1960
Sofrimento contornável - século XXI

Transcorria o ano de 1960, a menina de sete para oito anos, sentada numa sala, com mais ou menos cinco mulheres em luto fechado, acompanhando a mãe e a tia numa visita de pêsames, chupava calmamente um pirulito, quando de repente seu coração disparou, um aperto no peito fez-se presente, a língua parecia inchar, as pontas dos dedos amorteceram, 
-mãe estou morrendo, disse a menina.
As mulheres de preto acudiram e pediram socorro a um vizinho que prontamente levou mãe e filha ao consultório do médico da família, o pai logo chegou, informado do ocorrido pelo vizinho socorrista e, quando viu a filha no colo da mãe, não tendo ainda sido atendida, escancarou a porta e o médico pediu calma, pois estava preenchendo um atestado de óbito, ao que o pai aflito respondeu: estás aqui para cuidar dos vivos não dos mortos. 
Diagnóstico para os sintomas da filha: "faniquito" ou o atual "piti".
Alguns meses, ou talvez um ano depois a menina, junto com a tia e primos estavam desfrutando de um lindo dia em uma barragem, 
quando dentro da água os sintomas do primeiro "faniquito" novamente se manifestaram. Longe de qualquer ajuda médica, o carinho da tia resolveu o assunto, mas aos outros medos da menina, juntou-se o medo, não da água, mas da falta de chão.
Alguns anos passaram e, no final dos anos sessenta, início dos setenta as crises tornaram-se frequentes, sempre em sala de aula, quando a menina, agora já com quinze, anos saía da escola durante as aulas e corria sem olhar para os lados, os dois quarteirões que separavam a escola do escritório do pai, onde ao chegar, o "faniquito"  havia passado.
 Na cidade naquela época haviam dois ou três médicos que nada de errado encontravam na agora adolescente, mas por via das dúvidas 
a medicavam com "valium" e deixavam assim. 

E assim foi deixado até que a menina/adolescente/mulher/mãe, sempre sofrendo as consequências dos seus "faniquitos" ao ser tratada como hipocondríaca, maluca, briguenta, finalmente encontrou a ajuda que tanto procurou. Simples, um maravilhoso psiquiatra, medicação ajustada, terapia semanal e posteriormente quinzenal por dois anos. A medicação até hoje é usada pois o pânico da menina misturou-se com a depressão da mulher 
e a bengala se faz necessária.
Os pais estão perdoados, pois a classificação diagnóstica oficial de Síndrome do Pânico ocorreu apenas em 1980, quando o pai já havia partido, a filha já era mãe, a mãe avó, o casamento caindo aos pedaços, o sofrimento sempre presente juntou-se com a viuvez da mulher/mãe, aos trinta anos.
Então,  hoje não se tem mais desculpas para rotular alguém de maluca, briguenta, fiasquenta, a não ser que essa pessoa não queira tratar-se. Doenças psíquicas são mais frequentes do que se imagina e, já naquele tempo, século passado crianças sofriam, adolescentes fugiam, no caso para os braços do pai, mas em outros para as drogas, para o suicídio. Assim como hoje, síndrome do pânico não é doença da moda, é orgânica e precisa ser tratada para que o paciente tenha, mesmo que no terço final de sua vida na terra,
 qualidade e vontade de vida.
Pais, observem nas suas crianças e adolescentes e, presentes quaisquer sintomas diferentes do considerado normal em sociedade busquem ajuda, psiquiatras, psicólogos, espiritualidade, enfim respeitadas as crenças de cada um, não deixem o sofrimento 
fazer marcas em pleno século XXI. 


4 comentários:

  1. Putz, finalmente cheguei aqui! primeiro vamos lamentar a ida da Rebostiana.
    Que pena que ela se foi...
    Já estava imaginando as deliciosas historias que iam brotar dessa visita.
    Mas ficou combinado que ela vai escrever?
    Sabe Beth, não precisam falar de políticos, eles não merecem que se perca tempo falando de sua falta de caráter.
    Só pelo apanhado que voce fez de sua adolescência eu imagino quantas historias lindas sairiam dali.
    Sim, bem parecida com a minha, por isso seria maravilhoso ler. Vamos continuar não é mesmo?
    Quanto à síndrome do pânico, minha filha tem.
    O diagnóstico tirou de nossos ombros a terrível idéia de que ela estaria ficando maluca.
    Meu Deus, isso coloca a pessoa em uma provação total.
    Coitada, sofreu muito, assim como você, mas agora está tudo controlado, remédios e vez ou outra uma terapia para colocar as coisas no lugar.
    É isso mesmo Beth, os pais tem que ficar atentos para os sintomas, pois a pessoa precisa de atenção e cuidados.
    Nossa, meu comentário quase virou uma postagem.
    Adoro vir aqui e ler suas historias.
    Conte mais sobre sua (nossa) juventude. E mande um grande abraço para Rebostiana quando falar com ela.
    Beijos Beth querida, adorei tudo.

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  2. Beth, que bom que estamos em tempos de novos caminhos, novas posturas, e em pleno desenvolvimento também da medicina!!

    Às vezes, é na escola que a professora percebe que há algo errado com a criança e imediatamente a família é alertada e os encaminhamentos são feitos para profissionais que ajudarão em todos os sentidos!!

    Espero que você esteja bem!!

    beijinhos,

    Lígia e turminha ~ ♥ ~

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  3. No meu caso era preguiça.Eu passava horas deitada aos sete anos de idade.Eu era uma menina deprimida por me achar feia.Eu não era uma criança bonita para os padrões da época.E tinha toda aquela repressão de antigamente,que fazia com que eu me inibisse cada vez mais.Eu tinha até medo de falar.E por causa da minha depressão era tachada de preguiçosa,quando na verdade eu precisava de um pouco de atenção e compreenção.E mais tarde descobri que minha mãe tinha os mesmos sintomas e ficava dias e dias fazendo as coisas como se fosse um robô,pois sentia a mesma depressão que naquela época era chamada de preguiça e ela para não ser chamada de preguiçosa fazia as coisas automaticamente e depois ia deitar dizendo que estava sentindo um arrepio.Estas crises duravam em média de três a cinco dias.Ainda bem que a medicina evoluiu e as pessoas que sentem estes sintomas podem tratar-se.E a internet é um meio de poder encontrar pessoas que passaram ou passam pelos mesmos problemas e nos podem mostrar que não estamos sozinhas em nossos medos,panicos e depressões.Beijos.

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  4. Eu tive uma infância e adolescência difíceis por causa da minha timidez, não tinha amigas, vivia sozinha e me achava feia. A minha irmã (que eu amo muito) era a linda, cheia de amigas, inteligente e vivia me humilhando (ela nem se lembra disso) e meus pais não me ajudavam muito. Só a beleza e as qualidades dela eram percebidas e mesmo ela aprontando horrores (drogas) parece que eu não existia. Até hoje eu me sinto assim e uma das razões de eu gostar tanto do meu blog é que através dele eu me sinto especial. Numa certa fase da adolescência eu comecei a fazer terapia mas não quis continuar, não me sentia à vontade para dizer tudo que eu sentia. Por tudo isso sempre fiz tudo para que meus filhos fossem felizes e meu marido vive me acusando de defendê-los demais!
    Um tio do meu marido tinha síndrome do pânico e não conseguia nem tomar banho sozinho! A esposa tinha que ficar na porta do banheiro e ele tinha crises muito frequentes, vivia no hospital. Eu me lembro que era muito difícil conviver com ele, os filhos sofriam e minha sogra dizia que ele era o carma dela. O diagnóstico demorou muitos anos para ser descoberto e mesmo depois de se saber a causa as pessoas não aceitavam os problemas dele. Hoje em dia é muito mais fácil e as pessoas sofrem menos!
    Beijos
    Laís

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