"Onde reinam intenções honestas,
mal entendidos podem ser curados
com rapidez e eficácia."

25 de abril de 2012

Pobre de novela - Claudia Laitano

Eles têm o dinheiro (e o uísque) mas não têm "finesse"

O texto abaixo foi publicado no Jornal Zero Hora de 21 de abril de 2012


     "O dólar sobe, o dólar cai, os juros sobem, os juros caem, mas a garrafa de uísque e o balde de gelo continuam sempre a postos - gelo de rico nunca derrete. A economia mundial pode dar piruetas, o Eike pode torrar toda a sua fortuna, mas rico de novela nunca amarrota a fatiota. Está sempre lá, do mesmíssimo jeito, tomando seu café da manhã de rico e subindo suas escadarias de mármore desde os tempos em que Glória Menezes era cocota. Para acompanhar as mudanças no Brasil, é preciso ficar de olho no pobre de novela, este, sim, afetado de forma mais evidente pelas flutuações sociais e econômicas da nação: quando o país vai bem, o pobre de novela vai melhor ainda.
     Depois de anos fazendo figuração, enquanto os ricos bebiam uísque e a classe média casava e descasava, a categoria, enfim, tomou conta do horário nobre. As duas principais novelas da Globo, Cheias de Charme e Avenida Brasil, têm empregadas domésticas como protagonistas e música brega como trilha sonora. Em clima de dramalhão, Avenida Brasil mistura bastidores de futebol, kuduro e até o inédito (em novelas) universo dos catadores de lixo para contar uma história  de madrasta má e vingança que poderia ter c omo pano de fundo os campos nevados da Rússia. São os detalhes que colorem a trama com o tempero da classe C ascendente tipicamente nacional. A família do craque que ficou milionário, mas que não quis sair do subúrbio, é pobre de novela com banho de loja: eles têm o dinheiro (e o uísque), mas não o "finesse". São gente diferenciada.
     É na trama leve e despretensiosa de Cheias de Charme que o pobre de novela está ganhando contornos mais interessantes. Na novela das sete, o retrato da classe C vai além da trilha sonora e do figurino e é a parte central do enredo, não apenas porque as personagens principais são empregadas domésticas, mas porque seus conflitos renderiam um breve tratado de sociologia brasileira. Há as fronteiras embaralhadas entre a casa grande e senzala da menina que não sabe se é da família ou se é empregada, há a dona de casa que batalha para sustentar sozinha a família e o marido encostado (brasileiríssimo...) e há também a patroa sem-noção que joga sopa na cara da empregada - o que rendeu uma cena de julgamento de ação trabalhista que deve ter sido a primeira do gênero na teledramaturgia brasileira.
     Nos Estados Unidos, a televisão ficou tão boa nos últimos anos, que muita gente tem dito que as coisas mais interessantes estão acontecendo por lá e não mais no cinema. No Brasil, parece ter havido o fenômeno contrário: quanto mais o cinema brasileiro superava a desconfiança do público, mais as telenovelas, gênero brasileiro por excelência, ficavam parecidas entre si e repetitivas.
     O trunfo na moderna telenovela brasileira, aquela que nasceu com Beto Rockfeller no final dos anos 60, sempre foi a habilidade de fazer o país se reconhecer na TV - mesmo que com narizes mais fininhos e pele mais clara. A alegre e consumista nova classe C, que salvou o Brasil da crise, pode também estar salvando as novelas brasileiras da mesmice e da perda de audiência. Mas isso a gente só vai descobrir nos próximos capítulos.

6 comentários:

  1. Beth querida, muito verdadeiro este texto. Eu acho a novela das 9 meio forçada, mas amo a das 7! rs
    E acredito que muitas pessoas se identificam com ela!
    Beth, tamb´m estou na maior correria aqui, muitas idéias e tentando executar tudo, pra não perder o foco!
    Bjossssssssssss e tudo de bom pra ti
    Vero

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  2. Buenas...não veo novela, então estou bEEEm desatualizada neste quesito hehehe. Deixei de ver novela exatamente pela repetição (aníssimos atrás). Comecei não vendo todos os dias e percebi que não perdia o "mio da feada", daí passei a ver ocasionalmente e como a maocinha tinha separado e voltado novamente pro bandido-mor eu tb não tinha visto nada de novo. Quando eu fiz o teste e vi a primeira semana e previ como terminaria a novela (conferindo no final), bem, então, abandonei de vez. Mas daí viciei na Internet e...estou em processo de desintoxicação, assim como das novelas e da TV.

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  3. Quem me dera, Beth, poder adotar o cachorrinho, ele é uma graça, mas eu viajo muito a trabalho e já é um parto com fórceps encontrar uma catsitter, imagina uma dogsitter! Cachorro tem que ter pátio ou a gente ter tempo pra levá-lo pra longos passeios, um dia quem sabe, mais perto da minha aposentadoria...

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  4. Minha querida Beth! primeiro preciso dizer a voce que adorei a postagem sobre os dentistas.
    Seu avô foi um herói, bem sei, porque não era mole a vida de dentista naquela é´poca.
    hoje eles contam com alta tecnologia, mas antigamente, voce sabe...voce via!
    Confesso que detesto a anestesia. Aquela picadinha é de matar rsrsrs
    O resto eu encaro bem. Não tenho problemas com dentista.
    Bom, quanto aos pobres na tv, me diverti muito com esse texto.
    É tudo muito verdadeiro, e interessante.
    Não gosto de ver novela, prefiro um filme ou umprograma de noticias.
    Mas sei o que está rolando, vejo um pedaço aqui, outro ali.
    Adoro o colorido dos cenários, as externas, o palavreado dos cariocas (a grande maioria!).
    Gostei muito de vir aqui, tenha um lindo fim de semana e feriado, beijos querida.

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  5. Oi amiga querida,to me atualizando por aqui,desacelerando, afinal é sexta feira,uma delicia esse texto,morri de rir,e concordo plenamente, super inteligente,não conhecia, amei o abacaxi,eheh,fazia tempos que não via jarra assim,no meu tempo chamaria de boko moko, lembra dessa gíria amiga, heheh, faz tempos né? abafa, bjos pra ti, e vou continuar minha peregrinação por esses cantos.bjos! Aproveita o findi!Eu também vou aproveitar.

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  6. aliás...adoro aquela jarra em forma de abacaxi. Tínhamos uma na mh infância/adolescência e me traz uma nostalgia boa de casa com pai e mãe

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